A primeira estação experimental de abastecimento de hidrogênio renovável do mundo a partir do etanol é a aposta da Shell no Brasil. Nesta quinta-feira (10), a companhia inaugura a estação na Cidade Universitária, da Universidade de São Paulo, e espera que a novidade amplie o uso de hidrogênio no país com um transporte menos complexo a partir do etanol, em parceria com a Raízen.
“O hidrogênio é um elemento com importante papel na transição energética, mas é um gás volátil e complicado de transportar. A nossa solução é transportar o etanol, uma prática simples no Brasil, e transformá-lo em hidrogênio na estação. Se der certo, vamos aumentar a escala e fazer novas estações para que o uso do hidrogênio esteja próximo e fácil”, diz Olivier Wambersi, gerente geral de tecnologia e inovação da Shell em entrevista à EXAME.
De acordo com o executivo, o Brasil foi escolhido para o teste pela facilidade no uso do etanol e também pela importância dentro do negócio da Shell. “É um país importante para a nossa agenda. Quase 10% dos investimentos da Shell em pesquisa e desenvolvimento (P&D) são no Brasil”.
O etanol usado na estação será fornecido pela Raízen. Para Ricardo Mussa, CEO da Raízen, o grande ponto do projeto é como ele pode resolver problemas: do transporte de hidrogênio ao desafio do uso de baterias em veículos, por exemplo. “A bateria num veículo elétrico ainda é um desafio, visto o peso e a manutenção, especialmente quando falamos de grandes veículos. Com o uso de hidrogênio estamos falando da potência da bateria, mas com o peso leve do etanol”, afirma.
Outro ponto é a sustentabilidade. “Podemos ser ainda mais sustentáveis usando o etanol de segunda geração, feito a partir de resíduos. O Brasil tem uma vantagem competitiva enorme para isto em relação aos outros países”.
Agora, apesar do teste ainda ser numa pequena escala, Mussa sonha com passos largos, saindo de uma estação para outras em todos os mais de 8.300 pontos de abastecimento da Raízen no médio prazo. “Como já levamos o etanol para os postos, a diferença seria fazer o investimento na estação para que lá houvesse a transformação em hidrogênio. O potêncial é enorme, mas sabemos que não será para daqui um ou dois anos, por exemplo”.
Hoje, o deslocamento do etanol do local de produção até o destino é feito em caminhões-tanque, que têm capacidade para armazenar 45 mil litros, o equivalente a aproximadamente 6.000 kg de hidrogênio. Esse mesmo veículo conduzindo como carga hidrogênio comprimido conseguiria transportar somente 1.500 kg de hidrogênio, ou seja, 4 vezes menos. Outro ganho trazido por essa solução é a facilidade de se replicar a tecnologia, devido ao baixo custo de transporte do biocombustível.
“O que estamos tentando mostrar com esse projeto é que consigo levar o etanol de São Paulo ao Acre em postos que já existem, garantindo o abastecimento do veículos de forma rápida, sustentável e segura. Isto não seria possível se o transporte fosse o de hidrogênio”, diz Mussa.