O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, qualificou as mudanças climáticas como “a maior farsa” do mundo, durante seu discurso na ONU nesta terça-feira (23/9), reforçando seu ceticismo com uma fala recheada de desinformação em relação às iniciativas ambientais globais e às instituições multilaterais.
Trump falou por vários minutos, durante seu discurso recheado de conteúdos voltado para seu público interno como empresários do setor de carvão e petróleo e anti – woke. A fala de quase uma hora, sobre mudanças climáticas, criticou a União Europeia por reduzir sua pegada de carbono. Segundo Trump, isso afetou a economia europeia.
Depois que Trump assumiu o cargo em janeiro, os EUA se retiraram pela segunda vez do Acordo de Paris, um pacto de 2015 firmado por 195 nações para impedir que as temperaturas globais subam mais de 1,5°C. Com a saída, os EUA ficaram na companhia apenas do Iêmen, do Irã e da Líbia.
Sua administração está executando uma agenda de “domínio energético” que se concentra na produção e exportação de petróleo, gás e carvão, bem como na energia nuclear, enquanto deixa de lado a energia renovável, que se tornou competitiva em termos de custos. “Temos mais petróleo do que qualquer outra nação, petróleo e gás do mundo, e se você adicionar carvão, temos mais do que qualquer outra nação do mundo”, disse.
Seus comentários foram feitos um dia antes do secretário-geral da ONU, António Guterres, sediar uma cúpula climática que se concentrará nos novos planos de ação climática dos países. Guterres tentou manter o mundo focado em continuar uma transição global dos combustíveis fósseis para a energia limpa. “Basta seguir o dinheiro”, disse Guterres em junho, acrescentando que US$2 trilhões foram investidos em energia limpa no ano passado, US$800 bilhões a mais do que combustíveis fósseis, com um aumento de quase 70% em uma década.
Info: Os últimos tempos têm sido de recordes em sequência quando o assunto é o aumento de temperatura no planeta. Oficialmente, o ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a exceder 1,5°C de aquecimento acima do nível pré-industrial, como mostrou um relatório de janeiro deste ano assinado pela Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia. Dentro deste cenário de mudança climática, qual é o papel da ação humana?
Diversas entidades vêm investigando, entre elas, a Nasa. Estudos conduzidos pela agência espacial estadunidense e pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), por exemplo, indicam que “embora o clima da Terra tenha mudado ao longo de sua história, o aquecimento atual está ocorrendo em um ritmo nunca visto nos últimos dez mil anos”.
“Desde o início das avaliações científicas sistemáticas na década de 1970, a influência da atividade humana no aquecimento do sistema climático evoluiu de teoria para fato estabelecido”, diz o IPCC.
Energia renovável é uma piada e já fracassou
O republicano afirmou que uso de energias renováveis eram uma “piada” e que não funcionavam. A fala representa um contraponto direto ao que disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu discurso introdutório mais cedo: o futuro é da energia limpa e “os combustíveis fósseis são uma aposta perdida”.
Trump disse que países que apostam em agenda de desenvolvimento sustentável fracassarão (sic). Em referência às gestões democratas nos EUA que prezavam pela adoção de meios alternativos de produção de energia, o presidente criticou as políticas ambientais anteriores a ele. Segundo o republicano, “os grandes moinhos de vento” presentes no país eram “patéticos”, “ruins” e sem força para “tornar o país grande”. Para ele, os países devem “ganhar dinheiro com energia, e não perder”. O presidente criticou a China por exportar ferramentas para produção de energia renovável e continuar utilizando majoritariamente carvão e gás. “Não gostam do vento, mas com certeza gostam de vender moinhos de vento”, acrescentou.
Segundo o republicano, muitos países da Europa estão “à beira da destruição por causa da agenda de energia verde”. Trump citou a Alemanha como mau exemplo “tanto na imigração, quanto na energia”, mas que agora voltou ao “uso de combustíveis fósseis e com energia nuclear, o que é bom, é seguro”.
INFO: O crescimento recorde das energias renováveis no mundo — impulsionado pela energia solar — fez com que a energia de baixo carbono ultrapassasse 40% da eletricidade global em 2024. No entanto, picos de demanda relacionados às ondas de calor levaram a um aumento de 4% na geração de energia por combustíveis fósseis, segundo um novo relatório da Ember, think tank global de energia, com sede em Londres, no Reino Unido.
De acordo com o documento, isso fez com que as emissões de dióxido de carbono (CO₂) — principal gás de efeito estufa — atingissem níveis recorde. Ainda assim, a energia solar continua sendo a fonte de energia que mais cresce no mundo, com a quantidade de eletricidade gerada dobrando nos últimos três anos.
No mundo, estima-se que a demanda por energia deverá aumentar a um ritmo mais acelerado nos próximos três anos, com uma média de 3,4% ao ano. Ainda assim, a Ember projeta que o crescimento da geração limpa será rápido o suficiente para acompanhar o ritmo até 2030.
Carvão “lindo e limpo”
O presidente norte americano Donald Trump pediu, esta semana, a expansão da produção de carvão nos Estados Unidos, alegando que vai aumentar os incentivos para a produção de “carvão limpo”.
Em uma rede social, o Republicano escreveu “Após anos de sermos mantidos reféns por Extremistas Ambientais, Lunáticos, Radicais e Vagabundos, permitindo que outros países, em particular a China, ganhassem uma enorme vantagem econômica sobre nós ao abrir centenas de usinas de energia a carvão, estou autorizando minha administração a começar imediatamente a produzir energia com o CARVÃO LINDO E LIMPO”.

INFO: Para especialistas, no entanto, não existe “carvão limpo” e muito menos lindo. O carvão mineral é o mais poluente entre os combustíveis fósseis. Sua queima libera grandes quantidades de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).