Para atender pedidos que podem ultrapassar as dezenas de milhares de quilômetros de cabos, a maneira mais eficaz de transportar cabos em vias terrestres é enrolá-los em bobinas, grandes carreteis feitos, sobretudo, de madeira pinus.
Com uma árvore pinus com 30 metros de altura, no entanto, só é possível produzir três bobinas de 150 x 80 cm de 140 kg cada, aproveitamento que não é compatível com o frenético volume de projetos país a fora.
Esse cenário tende a ficar crítico nas próximas décadas, uma vez que a eletrificação global vai aumentar ainda mais a demanda por cabos e a falta de bobinas disponíveis pode acabar atrasando a entrega de projetos importantes.
Fabricantes de cabos hoje precisam recorrer a diferentes meios. Da concorrida compra de carreteis usados à reforma dentro da própria fábrica do que é possível recuperar, o custo é alto e a qualidade das bobinas nem sempre atinge as expectativas.
Elas também se tornaram uma dor de cabeça para os clientes, já que, uma vez instalados os cabos, o destino dessas gigantes de madeira normalmente é incerto e, não raro, acabam apodrecendo no canteiro de obras ou são jogadas no lixo comum.
A situação é igualmente difícil para os fabricantes de bobinas, pressionados a desenvolver novos carreteis em um volume cada vez maior e sem alternativas viáveis para recuperar as bobinas velhas, já que a recompra não é garantida.
Para interromper essa trajetória linear e estabelecer um ciclo de vida sustentável para as bobinas de cabos, o Grupo Prysmian integra clientes e fornecedores de bobinas em um processo que garante a destinação correta, aumenta o volume de negócios e o reuso de materiais, além de evitar o corte adicional de árvores e reduzir emissões de carbono.
Hoje, o Grupo Prysmian reutiliza bobinas usadas para transportar os cabos, o que representa um grande custo na aquisição de novos carreteis para atender a demanda dos projetos. A circularidade deste insumo chega para ajudar a empresa a balancear essa relação.
Conheça mais sobre esse processo abaixo:
Circularidade de bobinas
Para garantir o retorno das bobinas à fábrica, a Prysmian partiu da premissa que um processo complexo como esse não poderia começar somente após a utilização dos cabos pelo cliente no canteiro de obras. Era preciso agir muito antes disso.
“A circularidade só é viável se o processo estiver bem amarrado desde a venda. O cliente recebe e utiliza os cabos na obra com a segurança de que todas aquelas bobinas serão coletadas”, afirma Lineu Losada Pataro, gerente de logística do Grupo Prysmian.
A empresa vai capacitar os clientes para separar bobinas já utilizadas – da Prysmian e também de outros fornecedores – conforme padrão de qualidade. Caso não estejam em condições de serem reaproveitadas, serão encaminhadas para descarte correto.
“Se estiverem dentro do padrão de qualidade, o cliente nos informa a quantidade e as dimensões desses carreteis. Com isso, a coleta é realizada, garantindo a circularidade e, portanto, o reuso deste importante material para o processo”, explica Pataro.
O diferencial é a integração: todas as etapas podem ser rastreadas pelas partes envolvidas. O tracking pode ser feito remotamente por meio de um assistente virtual chamado Alesea, desenvolvido pelo laboratório de inovação digital e hangar corporativo do Grupo.
Além de resolver o que hoje pode ser um problema, os clientes podem se beneficiar de créditos para ações sustentáveis (rebates).
“A circularidade de bobinas agrega valor e fortalece nossas relações. Acreditamos que ela nos dá uma grande vantagem competitiva no mercado, complementando o nosso portfólio com a oferta de soluções que vão além do produto”, completa o executivo.
Case piloto com a Siemens Mobility e a Madem
Para testar o funcionamento e mensurar o impacto da circularidade na prática, o piloto do programa foi desenvolvido pela Prysmian em parceria com o cliente Siemens Mobility Brasil e a fornecedora de bobinas Madem.
“A projeção que fizemos a partir dos números obtidos na fase piloto nos deixou muito satisfeitos. De forma conservadora, em um ano, seria possível recuperar 4.887 bobinas e 1.122 árvores pinus”, celebra Pataro. “Nosso objetivo agora é ganhar escala com a entrada de novos clientes e fornecedores”, completa.
Compromisso global com a sustentabilidade
O Grupo Prysmian assumiu o compromisso de aumentar a participação de materiais reciclados na composição dos produtos e o de aumentar o reaproveitamento dos insumos utilizados nos processos produtivos e logístico.
Esses compromissos do Grupo estão totalmente alinhados com o 12º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030, que traçam metas de consumo e produção responsáveis.
Conforme a última edição do relatório global de sustentabilidade, o percentual de bobinas reutilizadas durante o ano de 2022 foi de 50%, batendo a meta de manter o índice de 2021. Em 2020 e 2019, o reaproveitamento foi de 48% e 46%, respectivamente.
Por falar em conteúdo reciclado, uma das metas da Prysmian é aumentar a participação de conteúdo reciclado nas coberturas de polietileno (PE) e condutores de cobre para algo entre 15-16% até 2025 – hoje está na casa dos 10%.
No final de junho, o Grupo anunciou metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). As metas foram devidamente aprovadas pelo instituto independente Science Based Target Iniciative (SBTi).
A empresa se comprometeu a reduzir até 2030, com base nos índices auditados em 2019, 47% das emissões de GEE no Escopo 1 e 2 e 28% no Escopo 3, objetivo ainda mais desafiador do que o firmado no compromisso anterior (2021), que falava em reduções de 46% e 21%, respectivamente.
O objetivo do Grupo é atingir o chamado zero líquido (net zero) reduzindo todas as emissões de GEE através da cadeia de valor até 2050, reduzindo 90% das emissões de Escopo 1 e 2 até 2035, novamente quando comparados com índices auditados em 2019.
A (SBTi mobiliza empresas para definir metas baseadas na ciência e aumentar a vantagem competitiva delas na transição para uma economia de carbono zero. É uma colaboração entre o CDP, o Pacto Global das Nações Unidas, o World Resources Institute (WRI) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
A iniciativa define e promove as melhores práticas na definição de metas com base científica, oferece recursos e orientação para reduzir as barreiras à adoção, avalia e aprova, de forma independente, as metas das empresas.