O portal Conecta Energia abre a série de “Entrevistas Especiais” que serão realizadas todas as segundas feiras com uma entrevista exclusiva com o prefeito de Curitiba, Rafael Greca. Nascido em Curitiba no ano de 1956, Rafael Macedo Greca é economista e engenheiro civil, formado pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (Fesp) e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) respectivamente. Grega também é poeta, escritor e pesquisador de história. Ele está no seu terceiro mandato como prefeito de Curitiba e transformou a capital paranaense como a cidade mais sustentável da América Latina e a 14ª do mundo. É o que aponta o ranking de “Cidades Sustentáveis” publicado pela revista canadense Corporate Knights, que mede a performance da sustentabilidade ambiental de 50 cidades do mundo. Com ações inovadoras implementadas em diversas áreas de Curitiba, destacamos na entrevista a seguir o projeto de sustentabilidade que está sendo desenvolvido pela sua gestão e os resultados que já estão sendo gerados. Confira a entrevista completa e exclusiva do Conecta Energia:
Por que Curitiba está se destacando frente a outras capitais no que diz respeito a sustentabilidade e utilização de energias renováveis ? Qual o diferencial?
– No dia 29 de março de 2023 celebramos os 330 anos de Curitiba, com a inauguração da Pirâmide Solar de Curitiba, o primeiro parque fotovoltaico instalado sobre um aterro sanitário desativado da América Latina. A obra é um dos símbolos de nosso compromisso em consolidar uma política climática neutra em emissões e resiliente ao clima até 2050. A Pirâmide Solar de Curitiba faz parte de um conjunto de iniciativas do Curitiba Mais Energia, por meio da produção de energia renovável, o que também resulta em economia. Com cerca de 8,6 mil painéis, a Pirâmide Solar de Curitiba é uma das estratégias da cidade para combater e mitigar as mudanças climáticas.
Através do programa Curitiba Mais Energia também estamos instalando painéis fotovoltaicos em terminais de ônibus e prédios públicos. Com isso, teremos uma economia de 60% na fatura de energia elétrica dos prédios públicos, recursos que poderão ser investidos em segurança, educação e saúde, ou onde mais o cidadão decidir, pois aqui em Curitiba o cidadão tem participação importante na decisão dos investimentos.
Como vocês enxergam o atual cenário do mercado brasileiro de energias renováveis e o futuro dele qual a perspectiva?
– O Brasil é um país que tem uma situação maravilhosa, nossa matriz energética é basicamente sustentável, contudo, muito dependente da matriz hidráulica. Com o aquecimento global tem se intensificado os extremos do clima, ora temos chuvas intensas e horas longos períodos de estiagem. Nas estiagens precisamos recorrer a usinas térmicas que além de poluentes são caras onerando a população, e ainda temos o risco de “apagão” como aconteceu recentemente. Assim ter energia é uma necessidade para o desenvolvimento das cidades e ter energia sustentável é uma necessidade para a manutenção do planeta. As cidades que quiserem manter seu desenvolvimento precisam pensar em garantir a sua energia de formas sustentáveis.
Quais os próximos passos que Curitiba irá avançar neste cenário de sustentabilidade visando o futuro (projetos)?
– O futuro é hoje, a Pirâmide Solar foi inaugurada e deve suprir 30% da energia consumida nos prédios públicos, estamos instalando mais painéis solares, agora nos telhados dos maiores terminais de ônibus. Os Terminais do Boqueirão e Santa Cândida estão em fase final, quase concluída a instalação de 756 e 900 painéis respectivamente, e o terminal do Pinheirinho deve receber 1.386 painéis até o final do ano. Também estamos na fase final das liberações para licitar e instalar cerca de 3.000 painéis fotovoltaicos no telhado da Rodoferroviária. Estes empreendimentos completam a primeira fase do programa Curitiba mais Energia, e com eles devemos suprir 60% do consumo dos prédios públicos da Prefeitura. Neste ano, estamos investindo R$ 200 milhões na compra dos primeiros 70 ônibus elétricos da cidade, que começarão a circular em 2024. Sem emissão de CO2 e ruídos, o ônibus elétrico é considerado o futuro da mobilidade nas grandes cidades e é uma das principais apostas do município para reduzir a emissão de poluentes nos próximos anos. Os ônibus elétricos integrarão as frotas dos novos Inter 2 e BRT Leste-Oeste, que estão recebendo obras que incluem readequação de canaletas, novos terminais e estações autossustentáveis com energia solar.
Combustível Derivado de Resíduos Urbanos (CDRU).
Curitiba, municípios que compõem o Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (Conresol) e empresas cimenteiras da Região Metropolitana estão transformando lixo que iria para aterro sanitário em Combustível Derivado de Resíduos Urbanos (CDRU). O CDRU é um substituto energético do coque de petróleo, utilizado como combustível para a fabricação de cimento. A substituição representa a redução da emissão de 1,2 tonelada de dióxido de carbono na atmosfera para cada tonelada de CDRU processada pelas cimenteiras.
Daria para fazer em uma escala maior (estado/país) a implantação de projetos sustentáveis a curto prazo para diminuir drasticamente o C02 no país. A troca da frota de transporte por carros/ônibus elétricos teria como atualizar neste momento ou ainda é inviável por falta de investimento e tecnologia em grande escala?
– O país precisa sair da inércia e começar ações. Curitiba integra o C40 que é uma rede global de prefeitos das principais cidades do mundo que estão unidos em ação para enfrentar a crise climática. Curitiba tem muitas ações que são reconhecidas e apoiadas pela rede C40. Somos frequentemente demandados para dividir nossa experiência e recebemos muito bem todos que vêm em busca de inspiração para suas ações.
Vocês acham que o curitibano já está absorvendo para o seu dia a dia uma cultura social e sustentável visando o presente e o futuro ou isso é um trabalho a longo prazo de conscientização ?
– Em Curitiba, são mais de 60 m2 de área verde por habitante (o mínimo recomendado pela OMS é de 12 m2). Tudo fruto de um trabalho incansável da cidade na preservação do meio ambiente.
São 48 parques, bosques públicos e um Jardim Botânico. Somados às praças e jardins, são quase 13 milhões de m2 de áreas preservadas. Aliado a esse compromisso de preservação de áreas de mata nativa, programas como Amigo dos Rios, de limpeza dos rios e recomposição da vegetação nativa com participação da comunidade, e Desafio 100 Mil Árvores, que vem sendo renovado desde 2019 e já atingiu o plantio de 370 mil mudas, também promovem a recuperação do ambiente urbano, a redução de emissões de gases e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
A Prefeitura de Curitiba também investe em educação ambiental para os moradores da cidade. Com a chegada da nova Família Folhas, o município vem reforçando com educação ambiental conceitos básicos de sustentabilidade para o dia a dia da população e busca inspirar ainda mais cidadãos a aderirem ao pioneiro programa Coleta de lixo que não é lixo da Prefeitura.
Além de ensinar a importância de destinar corretamente os resíduos domésticos e falar da utilização e reaproveitamento de água e uso de energias renováveis, a campanha com os simpáticos personagens do clã verde – Seu Folha, Dona Fofô, Fofis, Fifo, Flora, Fefo e Folheco – também inspira práticas que ajudem a reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) no meio ambiente. Fifo, Flora e Fefo podem ser vistos inclusive circulando pela capital, pedalando ecológicas bicicletas.
As ações da Prefeitura em Energia sustentável também despertam muito interesse e inspiram.
A Pirâmide Solar de Curitiba é quase um novo ponto turístico da cidade, são tantas visitas que já passam da casa das centenas e a cada dia temos mais solicitações de visitas. São prefeitos, secretários estaduais e municiais, técnicos da área, estudantes de graduação, pós-graduação, ensino técnico e ensino médio, grupos de funcionários de empresas, e o público em geral. Qualquer pessoa interessada pode visitar a Pirâmide Solar, basta se cadastrar no site da prefeitura.