A China atingiu um marco histórico ao se consolidar como líder mundial em armazenamento de energia de nova geração, respondendo por mais de 40% da capacidade global instalada até 2025.
O avanço, registrado no Relatório sobre o Desenvolvimento do Armazenamento de Energia de Nova Geração da China, reflete não apenas investimentos maciços em infraestrutura, mas também o papel estratégico das políticas públicas e das inovações tecnológicas no setor elétrico.
O país já havia instalado 73,76 gigawatts (GW) e 168 gigawatts-hora (GWh) em 2024, um crescimento impressionante de mais de 20 vezes desde o início do 14º Plano Quinquenal. Apenas seis meses depois, em junho de 2025, a capacidade total saltou para 94,91 GW / 222 GWh, um aumento de quase 29%.
Esses números refletem a prioridade dada pelo governo chinês ao armazenamento como ferramenta essencial para garantir estabilidade, eficiência e segurança energética em uma matriz elétrica cada vez mais renovável. Os sistemas funcionam como “baterias gigantes”, capazes de armazenar energia em momentos de baixa demanda e liberar nos horários de pico, suavizando oscilações e reduzindo riscos de sobrecarga.
Um exemplo notável é o parque solar de Shannan, no Tibete, que armazena eletricidade durante o dia para abastecer a região à noite. Outro destaque é o sistema de 150 MW / 600 MWh em Qinghai, considerado o mais alto do mundo em termos de conexão de alta tensão, com eficiência até 6% superior à média.
A liderança chinesa não se limita aos números nacionais: várias províncias apresentam desempenho de destaque. Mongólia Interior e Xinjiang já superaram 10 GW de capacidade cada, enquanto Shandong, Jiangsu e Ningxia ultrapassaram a marca de 5 GW.
Esse crescimento acelerado é fruto de um arcabouço regulatório robusto. O armazenamento de energia foi incluído na Lei de Energia da China e citado no Relatório de Trabalho do Governo de 2025, que o reconhece como recurso indispensável para a regulação do sistema elétrico.
Projetos inovadores também ganham escala. Em Suzhou, Anhui, foi concluído o maior projeto chinês de “carvão + armazenamento térmico em sais fundidos” do país, o primeiro em escala de GWh. O sistema aquece sais durante períodos de baixa demanda e libera calor quando o consumo atinge o pico, funcionando como um amortecedor energético.
Além disso, tecnologias emergentes como baterias de íons de lítio, de fluxo, de ar comprimido e de estado sólido estão cada vez mais próximas da comercialização em larga escala.
O crescimento do setor também trouxe mudanças importantes no mercado de energia. Em 2024, o volume de transações no sistema da State Grid alcançou 7,12 bilhões de kWh, um aumento de 2,7 vezes em relação ao ano anterior.
Apesar dos avanços, ainda existem disparidades regionais: algumas áreas já remuneram o armazenamento de forma clara, enquanto outras carecem de mecanismos consistentes para retorno de investimento.
Segundo Bian Guangqi, vice-diretor do Departamento de Conservação de Energia da Administração Nacional de Energia, os próximos passos são estratégicos: ampliar os cenários de aplicação do armazenamento, integrar melhor o recurso ao despacho do sistema elétrico e acelerar a criação de mecanismos de mercado que tornem os projetos mais rentáveis.
Para o governo chinês, o objetivo central é garantir um sistema elétrico mais eficiente, acessível e sustentável, ampliando a competitividade da indústria nacional no cenário global.
Com mais de 40% da capacidade global instalada, a China se consolida como o maior laboratório vivo de tecnologias de armazenamento de energia, acelerando a transição energética não apenas em território nacional, mas também influenciando padrões internacionais de eficiência, regulação e inovação.
A experiência chinesa mostra que o armazenamento não é apenas uma peça complementar, mas sim um pilar central da modernização das redes elétricas, viabilizando a expansão das renováveis em larga escala e assegurando estabilidade para consumidores e empresas.