A matriz energética brasileira está prestes a ser ampliada com a regulamentação da geração de energia eólica offshore. Nessa modalidade, os aerogeradores são instalados ao longo da costa oceânica, em alto mar.
O projeto de lei que cria o marco regulatório —de autoria do então senador e atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates— deve ser votado ainda neste ano na Câmara dos Deputados, após dois anos de tramitação.
O mercado global está aquecido e deve saltar dos 10 GW (gigawatts) estimados em 2022 para até 46 GW em 2030, segundo relatório da consultoria A&W, elaborado em parceria com a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). De acordo com o estudo, cada GW instalado em offshore pode criar de 11 mil a 34 mil empregos em toda a cadeia de produção. Esse modelo de geração já foi adotado por países como Alemanha, Inglaterra, Portugal, Japão, China, Noruega e França.
Estudo divulgado em 2020 pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), que é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, mostrou que o Brasil tem potencial técnico para gerar até 700 GW por meio dos aerogeradores instalados no mar. É mais do que o triplo de toda a capacidade energética atual do país (194 GW). Dessa forma, a nova modalidade tem potencial para atender altas futuras da demanda.
Em seu planejamento decenal para 2032, a EPE estima que o consumo de energia elétrica poderá crescer 3,4%. O trabalho considera um cenário econômico mais estável para os próximos anos.
Até outubro, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis) recebeu pedidos de estudo de impacto ambiental de aproximadamente 13 mil aerogeradores, divididos em 78 projetos. No total, há potencial para gerar 189 GW nessa fase.
O tempo de elaboração de um parque eólico offshore é estimado em pelo menos cinco anos entre desenvolvimento e construção. O custo chega a US$ 4.700 por kilowatt instalado, o que equivale a aproximadamente o dobro do modelo onshore, em terra firme.
A presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, acredita que o marco regulatório pode incentivar empresas que atuam no setor de óleo e gás com combustíveis fósseis a apostar em estratégias de redução das emissões de gases do efeito estufa.
“Vale destacar as capacidades e competências das empresas de petróleo e gás, que podem colaborar com a transferência de conhecimentos não só regulatório, mas também visando o desenvolvimento de projetos no mar. Companhias como Petrobras, Equinor, Total Energies e Shell têm participado ativamente das discussões para compartilhar caminhos regulatórios”, afirma Elbia.
Em setembro, a Petrobras assinou um memorando de entendimento não vinculante com a Total Energies e a Casa dos Ventos. O objetivo é desenvolver estudos que devem resultar em negócios futuros tanto na modalidade onshore como na offshore, além de projetos de energia solar e hidrogênio verde no Brasil.
“Nosso propósito é atuar em conjunto com grandes players para deslanchar investimentos em negócios de baixo carbono, encorpando o cenário de pesquisa tecnológica no país”, disse à época Jean Paul Prates.